O Cão de Gado Transmontano é originário de uma área geográfica que corresponde, no essencial, ao Nordeste de Trás-os-Montes.
 
 
Trata-se de uma região extremamente rica do ponto de vista paisagístico, onde, em curtas distâncias, é possível observar um conjunto de ecossistemas naturais e semi-naturais, sempre diferentes, que dão a esta área o aspecto de um permanente mosaico de paisagens. Esta diversidade é o resultado, por um lado, de específicas condições naturais, como o relevo, a geologia e o clima, propícias ao desenvolvimento de uma fauna e flora muito diversificadas, e, por outro, da transformação realizada pelo Homem no meio natural ao longo dos tempos, através da agricultura e da pastorícia, que levaram ao aparecimento e manutenção de ecossistemas semi-naturais que enriqueceram ainda mais a elevada diversidade biológica já existente.
 
 
Grande parte da região é constituída por zonas planálticas, com altitudes que variam entre os 500 e os 750 metros. Estas zonas são interrompidas e recortadas por serras e vales dos principais rios, que as atravessam no sentido Norte-Sul. Daqui, resulta um relevo vigoroso, constituído por pequenos planaltos que alternam com vales encaixados de rios, ribeiros e pequenas linhas de água, e com as ladeiras mais ou menos íngremes de serras, como a Nogueira (1318 m), Montesinho (1474 m), Coroa (1272 m), ou Bornes ( 1000 m).
 
 
O clima é bem caracterizado pelo ditado popular “nove meses de Inverno e três de Inferno”. A uma curta Primavera, sucedem três meses de Verão, cujas temperaturas máximas ultrapassam com frequência os 35ºC, seguindo-se-lhe um breve período de Outono. A partir de Novembro, e até Abril, é frequente a ocorrência de temperaturas mínimas abaixo dos 0ºC.
 
 
A vegetação reflecte as inúmeras variações naturais, bem como as que foram introduzidas pela actividade do Homem. O que outrora terá sido uma região essencialmente de florestas de carvalho-negral (Quercus pyrenaica), de azinheira (Quercus ilex), de sobreiro (Quercus suber) e de carvalho-cerquinho (Quercus faginea), aqui e ali recortadas por freixiais, amiais e medronhais, é hoje uma região coberta de bosques destas espécies, de dimensão variável, de extensas zonas de mato, de urze e de carqueja nas zonas mais frias e, nas zonas mais quentes, de esteva, de áreas agrícolas e de pequenos pastos, ao longo das linhas de água – os lameiros.
 
Também a fauna é rica e diversificada, estando referenciada na região a existência de cerca de 250 espécies de vertebrados terrestres, das 466 referidas para Portugal continental. A diversidade da fauna é bem reflectida pela ocorrência de espécies de carácter atlântico, mediterrânico e até de montanha ou pela presença de importantes populações de espécies superpredadoras, como a águia-real, a águia de Bonelli, a lontra e, claro está, o lobo. É também aqui que o lobo coexiste com as suas três principais presas selvagens: o javali, o corço e o veado.
 
 
 
A ocupação humana nesta região é bastante antiga, como atestam as gravuras rupestres que datam do Paleolítico Superior, de que são exemplo as que se encontram no rio Sabor, a poucos quilómetros da cidade de Bragança. Porém, é apenas no Neolítico Final que a ocupação humana parece estender-se a toda esta área, coincidindo, provavelmente, com a domesticação de algumas espécies animais. No período proto-histórico, terá havido já um povoamento relevante, de que dão testemunho os inúmeros povoados fortificados de cumeada que abundam na região. Desde esta época até aos dias de hoje, existiram várias mudanças, fruto da romanização numa primeira fase, que se mantiveram no seu essencial até à Alta Idade Média e, posteriormente, com as políticas de povoamento que se prolongaram até ao século XV. Já no século XIX, tiveram início as migrações para os centros urbanos do litoral, provocadas por sucessivas crises na agricultura, assim como pelo avanço da industrialização. Na primeira metade do século XX, deu-se início a um novo ciclo de desbravamento de terras, com a política de incentivo ao cultivo de cereais, que viria a terminar com nova crise agrícola, a qual provocaria o grande fluxo migratório da segunda metade desse século.
 
Hoje em dia, existem centenas de aglomerados populacionais por todo o Nordeste de Trás-os-Montes, sendo na sua maioria lugares de pequena dimensão, onde o número de habitantes pode variar entre os 30 e os 1100. Os de maior dimensão correspondem às sedes de concelho, como, por exemplo, Bragança que tem cerca de 20.000 habitantes.
 
 
O sistema de produção agrícola reflecte os condicionalismos impostos pelo meio natural. Baseado durante muitos anos na cultura cerealífera, com predomínio do centeio na Terra Fria Transmontana e do trigo na Terra Quente Transmontana, está, hoje em dia, essencialmente vocacionado para a actividade pecuária. Os cereais são cultivados nas zonas de menor declive e têm um período de pousio que pode ir até aos dois anos. O período de Outono-Inverno dá lugar à cultura do nabal ou do couval, que constitui, também, um suporte da actividade pecuária. Na Terra Fria, o castanheiro tem vindo a assumir uma especial importância como cultura, especialmente na produção de fruto, sendo esse papel substituído pela oliveira ou pela cerejeira na Terra Quente. Embora nas terras mais ricas, de aluvião, em redor das povoações, exista um elevado número de hortas, toda a sua produção se destina ao consumo próprio. As terras de aluvião mais afastadas das aldeias, aqui denominadas lameiros, são utilizadas para pastos e para a produção de feno.
 
 
A pecuária é a actividade económica com maior expressão no Nordeste de Trás-os-Montes. Caracteriza-se por uma exploração tradicional extensiva, sendo os ovinos e os bovinos as espécies com maior importância. A exploração de bovinos assenta, sobretudo, nos lameiros, que constituem a base da sua alimentação, alternando entre o pastoreio directo e a cultura forrageira resultante do corte do feno no fim do ciclo vegetativo destes prados. São também utilizados, como forragens para os bovinos, o nabo, a aveia, o milho e, por vezes, o centeio. A raça mais explorada é o bovino mirandês.
 
 
No Nordeste de Trás-os-Montes, a exploração de ovinos de raças autóctones é orientada, não só para a produção de carne (ovelha Churra Galega Bragançana e ovelha Churra Galega Mirandesa), mas também para a produção de leite e carne (ovelha Churra da Terra Quente e ovelha Badana). As áreas de pastoreio variam ao longo do ano, mas são utilizadas, essencialmente, as zonas não cultivadas, os restolhos, os pousios das culturas cerealíferas e, por vezes, os lameiros. Os rebanhos de ovelhas, nesta região designados por “gados”, são de pequenas dimensões, com 150 a 250 animais, guardados por um pastor e, geralmente, acompanhados por dois a cinco cães de gado, que defendem o rebanho de eventuais ataques do lobo. Desde há uma década, é também frequente observar a presença de cães de condução de rebanho, por cá designados por “cães de virar”.
 
A exploração de caprinos, embora ainda com alguma importância, encontra-se, todavia, em regressão. As suas áreas de pasto restringem-se às zonas não cultivadas das encostas mais íngremes dos vales dos rios e ribeiros. A sua exploração é orientada, em geral, para a produção de leite e carne, em especial na raça Serrana. As cabradas são de pequena dimensão e variam entre os 80 e os 120 animais, sendo também guardados por um pastor e acompanhados por 2 a 3 cães de gado.
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